Nana Caymmi sempre mergulhou com profundidade e personalidade no mar de canções e sambas do pai, Dorival
02/05/2025
(Foto: Reprodução) Nana Caymmi (1941 – 2025) na capa do álbum ‘O mar e o tempo’ (2002), dedicado ao cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 – 2008)
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♫ ANÁLISE
♪ Nana Caymmi tinha tanta segurança da força e identidade da própria voz que nunca se distanciou da obra do pai, um certo gênio chamado Dorival Caymmi (1914 – 2008), com quem debutou em disco em 1960 com gravação de Acalanto (1957). Ao contrário.
Ao longo dos 65 anos de carreira, a cantora carioca fez questão de dar essa voz quente e emotiva ao cancioneiro desse compositor baiano que desbravou mares na música brasileira a partir dos anos 1930. E fez isso porque sabia que ela própria, Dinahir Tostes Caymmi (29 de abril de 1941 – 1º de maio de 2025), nunca foi nepo baby, para usar termo da moda, mas um grande nome que independia do pai para ser reconhecida como uma das maiores cantoras do Brasil em todos os tempos.
Morta ontem, aos 84 anos, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), Nana mergulhou com profundidade e com personalidade no mar de canções, sambas e sambas-canção de Dorival – a ponto de ter dedicado três álbuns ao cancioneiro do pai entre 2002 e 2013. O último, Caymmi (2013), foi tributo já póstumo de Nana e dos irmãos Danilo Caymmi e Dori Caymmi ao pai, morto há então cinco anos.
O primeiro, O mar e o tempo (2002), foi o primeiro título de trilogia idealizada por Nana com o produtor musical José Milton para celebrar Dorival em vida. A ideia era dedicar um disco às canções praieiras, outro aos sambas e um terceiro ao samba-canção, gênero refinado por Dorival entre os anos 1940 e 1950.
Só que, temerosa dos resultados comerciais, a diretoria da gravadora Universal Music quis que o disco das canções praieiras também trouxesse alguns sambas-canção no repertório, o que gerou interseções entre os repertórios de O mar e o tempo (2002) e Quem inventou o amor (2007), discos feitos entre o álbum ao vivo com os sambas do compositor, lançado em 2004 por Nana e os irmãos Dori e Danilo para festejar os 90 anos de Dorival.
Redundâncias à parte, Nana foi a melhor intérprete de Dorival Caymmi depois do próprio Dorival Caymmi, com a ressalva que, na seara dos sambas-canção, Nana foi insuperável. Quem mais do que ela deu a devida intensidade a Só louco (1955), angustiado samba-canção que Nana gravou sete vezes entre 1975 e 2007, sem contar os registros do programa Ensaio e do filme documental Rio Sonata?
E o que dizer da gravação de Nem eu (1952) que abre o álbum Quem inventou o amor? Está tudo lá no canto preciso, de força potencializada pela respiração exata e pela densidade da voz posta sem melodrama, mas com todo o sentimento do mundo.
Quer profundidade? Pegue o álbum Dorival Caymmi – Centenário (2014) e vá direto na gravação de Sargaço mar (1985) feita por Nana para o tributo coletivo. Está tudo lá também...
E o que dizer do canto de Dora (1945), música que Nana gravou pela primeira vez em clima de samba-canção em álbum argentino de 1973? É melhor nada dizer e tudo sentir ao ouvir essas gravações.
Enfim, a cada vez que entrou no mar de Dorival, Nana emergiu com gravações perfeitas que atestaram a assinatura pessoal e intransferível do nome de Dinahir Tostes Caymmi, a cantora que ontem saiu de cena para ficar na história da música brasileira.
Capa do álbum ‘Quem inventou o amor’ (2007), de Nana Caymmi
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